Pular para o conteúdo principal

"Modernização" das relações trabalhistas nos leva de volta à Senzala

Por Marcelo Pereira

Como todos sabem, ontem foi aprovada a lei da terceirização, que estende para toda e qualquer situação, inclusive para as atividades-fim, a possibilidade de empresas contratarem outras empresas para realizar o serviço sem ter vínculo empregatício. 

É uma medida que poderá reduzir os custos da contratação, mas pode tornar a vida profissional precarizada, com condições análogas a de uma escravidão. Não por acaso, é considerada a revogação não somente da CLT como também da Lei Áurea. Coincidentemente, junto com a aprovação, foi recusada pelo governo de Temer a divulgação da lista das empresas que praticam a escravidão no país.

Pode parecer subjetivo estabelecer uma comparação entre a reforma trabalhista e a escravidão, mas alguns fatos existem para comprovar que esta comparação é real, lógica e objetiva. primeiro, porque boa parte dos empresários do país descendem de senhores do engenho dos tempos coloniais, tendo a escravatura como ingrediente ideológico passado de pai para filho. Segundo que, tirando a dignidade do trabalhador e remunerando abaixo do necessário, já fá para caracterizar como escravidão.

A curto prazo pode ser benéfico somente para empresários de mentalidade especuladora. Para os desenvolvimentistas, que acreditam numa administração mais humana, entusiastas da ideia que funcionário feliz produz mais e trabalha melhor, será péssimo. 

A longo prazo, a economia do país poderá piorar drasticamente, pois faltarão trabalhadores para produzir e consumidores para pagar, fazendo com que o dinheiro não circule e a economia fique estagnada, favorecendo a falência de muitas empresas. Isso já ocorre, pois no Capitalismo mais ganancioso, falências são inevitáveis.

 Após a reforma, esse processo de falências sucessivas sera acelerado. Apenas especuladores e rentistas, atualizações dos senhores de engenho coloniais, que lucram mesmo em tempos de crises, poderão se dar bem, prejudicando empresários que realmente queiram trabalhar e desenvolver a economia.

O que Temer e todos que o apoiam querem é transformar o Brasil em uma mera colônia de exploração, como era em tempos remotos, com mão de obra quase gratuita a realizar o trabalho pesado e enriquecer os especuladores que vivem no exterior em condições mais que nababescas. 

Com a terceirização, que atingirá todas as profissões que não envolvem liderança (terceirizar liderança seria o cúmulo da insensatez), até mesmo profissões prestigiadas como médicos, será prejudicada. O que significa que muitos dos que pediram a saída de Dilma (e médicos estavam entre eles) vão ter o seu apoio retribuído de forma ingrata, recebendo prejuízo como forma de gratidão.

Desde que se deu o golpe de 2016, o Brasil tem retornado a sua condição de país rebaixado, respeitando as condições mencionadas na Teoria da Dependência de Fernando Henrique Cardoso, um dos ideólogos das medidas tomadas por Temer. 

Os governos petistas tentaram tirar o Brasil dessa tradicional condição humilhante e em torno de 13 meteóricos anos experimentou o fato de ser um país de verdade, com perspectiva de desenvolvimento e ganhando respeito de outras nações. Como um belo sonho, isso acabou e aos poucos vamos retornando à humilhante condição colonial de nossos primórdios. 

Mas quem entende Administração e Economia sabe que os danos serão inevitáveis. Quem aposta que a reforma trabalhista iniciada com a aprovação da chamada terceirização vai colocar o país nos trilhos, não sabe como funciona a economia e não demorará muito para descobrir que foi enganado. Mas aí os especuladores estarão bem longe de nós, com todo o nosso ouro, roubado de nós, em suas secretas contas em paraísos fiscais.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Os desafios de uma Administração progressista e humanitária

Por Marcelo Pereira Hoje, a Administração necessita urgentemente de uma novíssima fase. Mesmo com as mudanças feitas, a teoria e a prática da Administração ainda tem velhos estereótipos em sua base. Essencialmente mudou muito pouco. A Administração ainda está muito vinculada ao Capitalismo e ao ganancioso desejo pelo lucro.  Os novos teóricos que se manifestam falam em humanismo, que pessoas são o principal ativo das empresas e bla-bla-bla, mas se vê que na prática a coisa é bem diferente. As faculdades de Administração, ao invés de serem polos de formação de gestores, acabam sendo uma fábrica de a aspirantes a magnatas egoístas, gananciosos e preconceituosos. Confundem arrivismo com ambição. É preciso parar com esta mentalidade infelizmente arraigada à ideia de Administração. O Capitalismo está velho e acabado. Tenta melhorar a sua aparência, modernizar a sua capacidade de sedução, mas não consegue enxergar que a realidade atual exige pessoas realmente altruístas (sem a h

Crise escancara fracasso do Neoliberalismo, forma parasitária do Capitalismo

Por Marcelo Pereira O Brasil está vivendo um triste momento histórico nos últimos dias, que certamente iniciará algum tipo de ruptura, ainda não se sabe de que lado for. Pois o caos instalado pode criar uma ruptura que favoreça a população ou uma ruptura que preserve os interesses dos capitalistas que parasitam toda a economia para que tudo aconteça a favorecer a sua faminta ganância. Economistas sérios - não confunda com banqueiros disfarçados de economistas ou com economistas pagos pela grande mídia a discutir o sexo dos anjos - garantem que o Neoliberalismo está com os dias contados. O contexto do século XXI não comporta uma ideologia baseada na ganância e no lucro imediato. O Neoliberalismo deve ser extinto para que a economia encontre seu rumo e possa beneficiar o maior número de pessoas e não uma meia dúzia de magnatas. A crise de 2008 foi bem sintomática e serve como uma prova real de que o Neoliberalismo é um sistema não apenas obsoleto como nocivo a humanidade. É

Ganância não é mais defeito: virou qualidade. Desde que você não a chame de "ganância"

Por Marcelo Pereira Toda vez que eu ouço coisas desagradáveis sobre o Capitalismo e as crises e problemas resultantes, nunca ouço análises que sejam capazes de responsabilizar a ganância típica desse sistema pelos erros consequentes. Fica a impressão que para todos, o problema da ganância é subjetivo, algo que deve ser ignorado em análises mais técnicas e objetivas.  Um erro, pois sabemos muito bem que a ganância não somente é a origem de grande parte dos erros capitalistas como também a base que sustenta este sistema. Não dá para ser capitalista sem ser ganancioso. Isso é fato. Se deixar de ser ganancioso, deixa de ser capitalista para ser o que o genial ex-chanceler Celso Amorim classifica como "socialismo democrata". Mas ser socialista em um mundo individualista pega muito mal, não é? Não é coincidência que o crescimento dos ideais direitistas ocorra simultaneamente com o aumento do sentimento de individualismo na maioria das pessoas. Passar a perna no outro d