Por Marcelo Pereira
Vamos reconhecer. Nem todos os chamados empreendedores estão a favor das reformas trabalhistas. Somente os rentistas, os gananciosos e os que conseguem obter lucros através de outros meios senão a venda de produtos e serviços.
Vamos reconhecer. Nem todos os chamados empreendedores estão a favor das reformas trabalhistas. Somente os rentistas, os gananciosos e os que conseguem obter lucros através de outros meios senão a venda de produtos e serviços.
Há empreendedores sérios preocupados com a reforma trabalhista, que põe em xeque mais de 100 direitos adquiridos pelos trabalhadores. Quem estudou ou estuda Administração sabe que a evolução da capacidade de gestão se deu com o aumento cada vez maior da preocupação com o ser humano. Ou seja, o desenvolvimento da Administração é o desenvolvimento de seu lado social.
O que a reforma trabalhista pretende é justamente o oposto. O trabalhador volta a sua condição dos primórdios da Administração, quando era tratado como mero equipamento natural. Uma máquina criada para fazer o serviço e que quando "quebra" deve ser descartada e trocada por outra similar ou melhor. Era desta forma que o trabalhador era tratado e com o tempo esta noção foi desaparecendo.
Mas não por completo. A existência de empresários que tratam o trabalhador como simples máquina é ainda grande, pois a ganância de lucrar mais e mais, que é uma doença, elimina do caráter do suposto empreendedor qualquer senso de humanidade. O gestor pensa ser melhor que os outros e por isso se acha nos direitos de ganhar mais que outras pessoas e de explorar quem julgue estar abaixo dele.
É um pensamento que se acreditava sumido, mas que retoma força em tempos de ódio humano estimulado pelo golpe político de 2016. Pessoas gananciosas e odiosas perderam a vergonha de seu sadismo e passaram a considerar o desejo de prejudicar os outros como um ato de defesa de seus interesses, como se privilégio fossem direito básico para os mais afortunados.
Este tipo de pensamento faz desenvolver a falsa noção de que trabalhador não fala, não anda e nem vive: só trabalha. E trabalha no pior sentido da palavra, ou seja, não o emprego digno que desenvolve aptidões mas o sacrifício sub-humano que escraviza o trabalhador, dando oportunidade para que gestores e patrões façam o que quiserem, por mais cruel que seja.
Reformas garantem prejuízo a longo prazo
Mas o que os apoiadores das reformas se esquecem é que as mesmas podem trazer prejuízo a todo o empresariado, sobretudo aos que não são gananciosos. O pequemo e o médio empreendedor certamente será prejudicado com as reformas. A figura do consumidor desaparecerá gradativamente e o gestor, que no Brasil não tem o habito de pensar a longo prazo, ficará em fonte de renda no futuro, sendo obrigado a fechar as portas por falta de clientes.
Isso vai acontecer porque as reformas vão achatar o salário do trabalhador. Fala-se em volta da escravidão. Há inclusive projetos de lei - pasmem! - pedindo para que desobrigue o pagamento de salários a trabalhadores rurais, que devem ser remunerados apenas com casa e comida. Um retrocesso gigantesco que nos leva de volta aos tempos coloniais.
É preciso combater as reformas trabalhistas, ou pelo menos desobedecer seus pontos. A ideia de que a CLT está ultrapassada é papo furado, pois a mesma tem sido devidamente atualizada em vários pontos durante anos. Quem quer acabar com a CLT quer liberdade para explorar, quer transformar o trabalhador em um serviçal a sustentar a gula desenfreada dos gestores irresponsáveis.
A evolução da Administração passa pelo respeito ao trabalhador e pela ideia de que funcionário feliz trabalha melhor e produz mais. Explorá-lo como se fosse um mero equipamento é um preconceito arcaico que existe na mente de quem na aceita tempos futuros. Um pouco de respeito humano não prejudica o empreendedorismo. Recomendável não se esquecer disso.
Comentários
Postar um comentário